Publicado em : 18/06/2019 - Atualizado em: 18/06/2019 15:55:37

Livro publicado pela Edufba vence prêmio Thomas Skidmore

Nesta edição, 25 obras tiveram as inscrições validadas e a obra vencedora, “Temores da África: segurança, legislação e população africana na Bahia oitocentista”, foi anunciada pela comissão julgadora do prêmio e publicada no Diário Oficial da União


 

A Obra “Temores da África: segurança, legislação e população africana na Bahia oitocentista”, de autoria de Luciana da Cruz Brito, publicada pela Editora da UFBA (Edufba), venceu a última edição do prêmio Thomas Skidmore, promovido pelo Arquivo Nacional e pela Brazilian Studies Association (BRASA).  É a primeira vez que uma obra da Edufba, escrita por uma historiadora negra, graduada pelo curso de História dessa Universidade, conquista a premiação que sempre destaca temas brasilianistas.
 
A autora, que atualmente é docente na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), elaborou uma análise da escravidão e do racismo na sociedade baiana do século dezenove, a partir de um olhar sobre a lei da abolição do tráfico negreiro (1831) e da repressão aos africanos libertos, após o levante dos Malês (1835), revelando movimentações do povo negro que suscitaram diversos temores em seus senhores. Subsidiada por documentos oficiais do Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), Brito verificou que esses medos mobilizaram leis, juristas e a sociedade para legalizar ações que vão desde perseguições, violência policial, ações jurídicas e deportações que tinham por objetivo controlar e punir a população africana da Província.
 
Desse modo, a docente constrói um paralelo para entender os sentidos atuais dos debates sobre encarceramento, extermínio, judicialização, exclusão da juventude negra nas cidades brasileiras com a situação da Bahia oitocentista, marcada por revoltas e mobilizações escravas, na cidade de Salvador, um dos maiores centros urbanos escravista desde o fim do século XVIII.   Ao analisar o “lugar social” do negro na Bahia dos anos de 1800, a obra destaca sua importância sociológica e histórica ao apresentar situações que ainda estão na pauta dos debates atuais, dados os “contextos,  personagens, sentidos e símbolos”.
 
A premiação
 
Observando o recorte de um período distante há mais dois séculos, ela já identifica a diversidade de Salvador como cidade negra, “essencialmente africana” e com uma “atmosfera de repressão, truculência e controle social”.  As pressões daquele momento eram marcadas, principalmente, pela luta contra a falta de garantia e de direitos negados aos africanos libertos na Bahia imperial e de como eles tensionavam a sociedade escravista para viver melhor e afirmar suas vontades, segundo o livro que foi publicado pela Edufba, em 2016.  Para a autora, a obra “faz parte de uma tradição historiográfica preocupada em entender, e chegar o mais perto possível, a realidade dos escravizados e libertos e que viviam sob o estigma da escravidão”.  “É um livro sobre lutas na tentativa de garantir uma vida digna, livre e autônoma por isso, carrega em si um significado político atual, pois também vivemos num momento de disputa pelas narrativas históricas”, disse.
O Prêmio Thomas Skidmore é promovido pelo Arquivo Nacional e a Brazilian Studies Association (BRASA) e homenageia o brasilianista norte-americano e professor emérito da Brown University. Nessa 3ª edição, a iniciativa acolheu obras publicadas em língua portuguesa entre os anos de 2013 a 2017 sobre a temática da questão racial no Brasil.  O tema da edição de 2018 foi a questão racial no Brasil, tendo como correspondência outra obra clássica de Thomas E. Skidmore, cujo título é “Preto no Branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro (1870-1930)”, fruto de estudo pioneiro realizado por Skidmore, nos anos de 1970.  Além disso, as obras concorrentes também deveriam apresentar conteúdo autoral e de interesse internacional.
 
FONTE: UFBA